Tentar satisfazer padrões é matar a si mesmo

06 de junho de 2014

Por Marcos Rezende em Insistimento – 04/05/2009

Durante um longo período da minha vida, eu tentei satisfazer padrões daquilo que a vida me colocou como certo, coerente e alinhado com os valores da sociedade. Não consegui satisfazer qualquer um deles que tenha seguido e nem sequer satisfiz a minha mesmo, pois, pelo contrário, nessa busca por satisfação, tropecei e caí diversas vezes e, por diversas vezes, esbarrei ou derrubei alguém que estava à minha volta. Qual foi o erro: buscar fora o que eu era.

UM POUCO DE ESTÓRIAS SOBRE PAIS E FILHOS

Meu pai sempre foi um cara muito esforçado e trabalhador ao extremo. Quando criança eu quase não o via, pois ele sempre estava trabalhando até tarde e nos finais de semana para agregar ao seu salário, um pouco de horas extras. Cresci com este padrão de homem e, buscando me espelhar nele, estudei, arranjei bons empregos e cresci na vida até ter minha própria casa e uma mulher ao meu lado. Porém, meu olhar inquieto e questionador sobre a vida e minha alma jovem, me fizeram saltar de onde eu estava para o desconhecido em busca de ser feliz a todo momento.

Enquanto estava vivo, meu pai sempre dizia que era feliz, porém a poucos dias de falecer, ele lamentou que queria ter sido mais feliz. Como foi criado sem pai e tendo que sustentar a casa desde pequeno, imagino que meu pai queria passar valores de responsabilidade e honra que talvez ele não tenha obtido do seu pai. E foi o que fez, pois realmente, ao lembrar-me dele, noto essas duas qualidades bem visíveis em seu caráter, porém: ele não foi feliz. Não que ter passado esses valores foi o que lhe tirou a felicidade, mas a maneira como talvez ele os passou.

Assim como eu não estava feliz e decidi optar por ser feliz quando me separei, pequei quando as coisas foram ficando difíceis na minha vida e ouvi a voz do meu pai dizendo para eu ser quem eu não era. Metade de mim seguiu seu conselho, enquanto a outra continuou a perseguir os desejos para satisfazer o entusiasmo inquieto que sempre carreguei dentro de mim. Empresas, trabalhos, mulheres, coisas inseguras me atraíam desde sempre e mais uma vez, por irresponsabilidade com minha própria vida: errei. E tornei-me pai sem ter família, nem mais casa própria e tudo aquilo que o “padrão” da sociedade gostaria que eu tivesse.

Hoje eu sou o pai e os valores que quero passar para o meu filho é o da busca incessante pela felicidade dentro de si mesmo e a dedicação a sua causa pessoal independente do que possam julgar aqueles que o cercam. Sou feliz hoje, mas, infelizmente, os padrões ainda me atormentam. Porém, acredito que uma vez transcendendo esses padrões me autorealizarei, independente do que A ou B acharem sobre Marcos Rezende.

SEGURANÇA + MEDO

Enquanto patrão eu lhe dou segurança e você fica com medo de perder o emprego. Enquanto namorado eu lhe digo eu te amo e você fica com medo de eu deixar de te amar. Enquanto filho eu te digo que estarei ao seu lado e você fica com medo de me perder. Enquanto governo eu lhe dou cesta básica e você fica com medo de crescer. Enquanto polícia eu lhe dou cacetada e você fica com medo de morrer. Enquanto médico eu lhe dou remédios e você fica com medo de não ter dinheiro para pagá-los. Padrão, padrão, padrão, padrão, padrão. Todos somos submetidos a padrões que nada tem a ver com a nossa própria realidade.

“A alimentação deve ser assim ou assim, porque de outro jeito vai te dar câncer. Beber só se for desse jeito porque de outro provocará infarto. Vinho faz bem. Vinho faz mal. Café faz bem. Café faz mal.”

Tentar seguir algum padrão é ir contra a lei da evolução, pois como que uma criança que nasce agora irá se enquadrar em um padrão que seu pai vive hoje? Uma criança que nasça agora deve determinar o que quer fazer para a sua vida da maneira que ela quiser. Assim como nós, nascidos ontem, devemos decidir o que queremos fazer à nossa maneira, pois só assim construiremos um novo mundo à nossa volta.